A Santa Misericórdia começa a cair do altar...
Pois é! A Santa Casa da Misericórdia , o provedor e todos os administradores desta instituição barquense começa a cair do pedestal. Depois dos anteriores episódios, em que "p. Antonino" denuncia aumento de remunerações só para os cargos de administração ou gestão, merecendo o contra-ataque do Provedor desta instituição de "tão bom nome" (tudo isto em http://nadasobreabarca.blogs.sapo.pt/9317.htmle em http://nadasobreabarca.blogs.sapo.pt/10381.html), eis que os mistérios desta "Casa Misericordiosa" e da mui nobre linhagem que a tem governado se começam a revelar por testemunhos reais. Na última edição do Notícias da Barca, de 5 de Maio, está lá tudo, ou pelo menos uma pequenina fatia de "tudo", só para aguçar o apetite. "Suspiros de Revolta" é o artigo através do qual a família de José da Rocha (ou Zé Louvado) dá a conhecer um dos podres desta casa. No nome desta casa está a palavra "Misericórdia". Nas atitudes e decisões que toma perante a população, principalmente idosa, "Misericórdia" é talvez a palavra que mais dá vontade de rir a quem assiste a estes episódios, e vontade de chorar a quem passa por esses episódios.
Zé Louvado era um senhor que sendo "louvado", excepto para os da Santa Casa, tinha uma família que se preocupava com o seu estado de saúde ("uma doença neurológica degenerativa e irreversível"). Um dia, através do seu médico, este doente com mais de 50 anos foi internado no Hospital da Misericórdia, com um tempo previsto de internamento, segundo o médico, de 10 a 13 dias. Ao 6º dia a instituição dita de misericordiosa deu alta a este doente. A comunicação desta decisão da instituição foi feita de tal forma misericordiosa que os familiares chegaram a entender que tinha falecido. Os cuidados prestados a este doente eram também muito duvidosos durante este internamento: "era necessária a substituição da fralda" e "encontrávamos cheio de sede (...), descoberto, cheio de frio, descalço e caído de um cadeirão". Faleceu sem ter conseguido ser tratado de forma digna até ao momento da morte. Onde estava o lar da Santa Casa, o chamado "Condes da Folgosa", que parece mesmo destinar-se apenas a condes? Todos sabemos, e com certeza também o leitor também conhece, que existem vários casos destes no concelho. O actual executivo até prometeu nas eleições a construção de mais lares de acolhimento de idosos em situações precárias como esta. Os problemas da velhice são uma realidade para muitos idosos barquenses e um calvário para os seus familiares. E onde estão os lares? Quer entrar? Então tem que ter o papelinho!
Familiar de um velhinho: Ó "chinhor" doutor(a): o meu paizinho, que Deus o tenha em eterno descanso, já faleceu faz dia de S.João um ano. E agora a minha mãezinha que é uma santinha não anda nem "bê", sabe?
Administradores(as) de uma lar: Sabe como é, temos poucas vagas! Mas olhe que se quiser conseguir alguma coisa tem que se baixar mais do que isso. Ora baixe-se lá mais um bocadinho!... Por Nossa Senhora da Murrinhanha!
Familiar de um velhinho: Ó "chinhor" doutor(a), peço-lhe pela alminha de quem lá tenho! Tenha pena de nós que somos "pobrinhos". Que será de mim se não me acode?!
Administradores(as) de um lar: Vamos lá ver o que se pode arranjar. A lista de espera é longa... Temos aqui dois ou três quase a morrer... Mas sabe como é, eles tinham muitos haveres...
Familiar de um velhinho: Mas nós somos "pobrinhos"...
Administradores(as) de um lar: Sim, já estou a ficar sensibilizado... E você baixa-se muito bem... Já tem experiência nisto, não tem?
Familiar de um velhinho: Sabe como é... Hoje em dia quanto mais baixo melhor...
Administradores(as) de um lar: Pois, bem sei... Isso também lhe dá vantagem relativamente àqueles que se baixam pela primeira vez quando vêm aqui ao nosso lar de idosos. Só por isso já passou à frente de uma boa parte dos que estão em lista de espera. E o papelinho, tem o papelinho? É que só com isso é que passa à frente de todos os que estão em lista de espera para entrar aqui...
Familiar de um velhinho: Também é preciso essas papeladas para entrar aqui? Não é papel higiénico, pois não? É que isso eu já tenho...
Administradores(as) de um lar: Não, não é nada disso... É a declaração comprovativa de bens para fins de "cunhas".
Familiar de um velhinho: Ah! Isso eu tenho... Já "tibe" de meter umas "cunhas" na Câmara, nas Finanças, na Segurança Social, na GNR por causa de umas multas do meu "home"...
Administradores(as) de uma lar: Estou a ver que nos estámos a entender minha senhora. E só por curiosidade, que bens declara nesse papelinho?
Familiar de um velhinho: É só duas "obêlhas", 13 galinhas, 2 galos, uma dúzia de chouricinha caseira e bom cabrito... E acho que me estou a esquecer de alguma coisa...
Administradores(as) de uma lar: Diga, diga!...
Familiar de um velhinho: E um presunto... Já me disseram que isso é obrigatório estar nesse papelinho.
Administradores(as) de uma lar: Minha senhora: pode trazer a sua mãe para o nosso lar quando desejar e quando puder. O nosso lar tem todo o gosto em apoiar socialmente todos os idosos carentes de cuidados de saúde como a sua mãezinha. Contámos com décadas e décadas a fio a praticar actos nobres como este no nosso lar. O nosso lar tem todo o gosto em dar uma vida digna a este idosos. Hoje já poucos têm sensibilidade perante tais situações, e nós orgulhamo-nos de ser dos poucos que põe o bem estar dos idosos à frente de interesses económicos...
Familiar de um velhinho: E que mais é preciso, "chinhor" doutor(a)?
Administradores(as) de uma lar: É só me trazer esse papelinho no acto de entrega do velhote. Não se esqueça do presunto... E do cabrito... e do resto que você disse.