Aula de "Estado Novo" por Artur Soares
Já há algum tempo que Artur Soares vinha escrevendo os seus artigos na sua rubrica "Ecos do Nosso Mundo", mas foi desta última, na edição de 26 de Maio do "Notícias da Barca" que mostrou toda a sua vocação. O artigo intitulava-se "Vestuário e Amplas Liberdades". Já por si o título é muito sugestivo, e a sua rubrica, "Ecos do Nosso Mundo" cabe-lhe que nem uma luva. De facto, apesar da ditadura política ter acabado há uns anitos, ela ainda ecoa no nosso mundo barquense, estendendo-se a todo o Portugal. Ainda não leram? Pois leiam e recortem do jornal, pois é do melhor que há para rir, pois se fosse para levar a sério seria no mínimo extremamente preocupante, tal é o conteúdo de tal artigo. É de facto um artigo pró-repressão, tal como muitos dos resquícios de mentalidades que ainda andam por aí (basta ver o caso do professor que não pode dar em privado uma graçola acerca do primeiro-ministro). Estaremos a recuar no tempo? O que parece é que desde o 25 de Abril que não mais houve uma evolução tão significativa a nível ideológico. Mas como esta discussão tem que ser feita de forma muito séria no seio da população, e não neste blog sem credibilidade, o barqueiro tem o desgosto de pelo menos uma vez na vida proporcionar prazer àqueles a quem o 25 de Abril nada lhes disse. Revivam então uma das vossas aulas de instrução primária, baseada pelos excertos de qualidade superior do artigo do "sim, senhor professor" Artur Soares, mas com a interactividade do século XXI.
Para começar cantem o Hino e de seguida 2 Avé - Maria, 1 Pai Nosso e para finalizar um "sinalzinho da cruz". Ha!... e virem-se para as fotografias.
A aula de hoje é dedicada aos bons costumes no vestir. Fiquem então com o sermão da calamidade actual da nossa sociedade por Artur Soares:
" O ano passado, no santuário de Fátima (...) D. Serafim, fez um pedido (...). Foi um pedido delicado, e, por isso mesmo, feito com toda a delicadeza! Pediu aquele Prelado, que os peregrinos fossem cuidadosos "em não fazer daquele recinto, local de turismo e, muito menos, local de praia"."
"Infelizmente, são muitos os Prelados portugueses que necessitavam de fazer semelhante pedido nas suas Dioceses. (...) se o Clero não tomar atitudes, melhor, se não fizer tais "delicados pedidos com toda a delicadeza", dentro de poucos anos os fieis apresentar-se-ão nas igrejas em fatos de banho se, os tiverem, uma vez que o calor os dispensa."
"Creio bem que há abusos. Mas o que mais custa observar neste reino sem rei, é vermos senhoras que - conduzindo o carrinho do bebé e marido ao lado - usam quase tanta roupa no seu corpo como aquela que traziam ao nascer!"
"E a democracia pregada por estas três repúblicas, bem como a democracia da maçonaria, não conhecem fronteiras para espalharem a anarquia, o despudor."
"A vida do homem também é composta por costumes, modas e leis que o regem. (...) "a moda é inventada pelos loucos e os tolos é que as seguem de perto"."
"Quem não vê a moda das blusas e das t-shirts sem frente e sem fralda? E quem não vê as calças sem gola? Com este caminhar e com tal rapidez, não admira que daqui por vinte ou trinta anos, seja moda caminhar pelas ruas da cidade, praticando nudismo."
"Há pais que tudo facilitam às filhas, talvez com a intenção de terem um genro o mais rápido possível; e há maridos que não se importam que as suas esposas sejam "apreciadas" pelos amigos."
Pois é! O barqueiro e quisesse dar uma aula do género a todos os que gostavam de reviver os tempos de ditadura, não conseguiria fazer melhor! Daí que a quantidade de excertos usados nesta "aula" seja grande, esquecendo-se outros parágrafos de qualidade semelhante.
Agora vão lá embora e já sabem: vistam-se bem! Usem as vossas roupinhas do tio Oliveira Salazar. E, mulheres: não vão para a missinha tentar os padres com as vossas "mini" roupas.
Esperemos pelas próximas aulas. E façam também aos vossos familiares e amigos estes "delicados pedidos com toda a delicadeza". Acabem-se estas "poucas-vergonhas"!