Domingo, 10 de Junho de 2007
A moda de Scolari

A moda de Scolari

A realidade barquense: da janelas das moradias até aos eventos socio-tradicionais

O barqueiro através de mais uma das suas revisões pela imprensa deparou-se por mais um dos "eventos" caricatos das nossas terras: as bandeiras. A moda de Scolari, de por bandeiras às janelas das casas por todo o país não é inteiramente nova em terras barquenses. A diferença reside nas circunstâncias e locais onde são postas e usadas, se assim se poderá dizer.

Para Scolari, as bandeiras foram uma forma de transmitir e moblizar os apoios dos portugueses em geral para a selecção nacional de futebol, pondo em campo não só uma equipa de futebol como um país inteiro.

Para os barquenses colocar as bandeiras nestas alturas apenas teve de novo serem colocadas às janelas e serem de Portugal. A tradição é ainda tão forte, que uma bandeira tem que ser utilizada nas tradições da terra, não como um simples símbolo, como a portuguesa, mas como muito mais do que isso. Só quem já viveu esta febre dos estandartes sabe explicar. É algo que não passa através das palavras.

Este assunto é para aqui trazido em virtude de um tópico da imprensa regional recente que dizia "Fundador do Antigo Rancho oferece bandeira", no qual um senhor que ofereceu uma bandeira ao rancho de uma das freguesias do concelho, Bravães, é descrito como "ilustre filho da terra". 

E os funerais? Ainda existem pessoas que querem pertencer a organizações, se é disso que se trata, chamadas de Irmandades, para levar a bandeirinha no seu funeral. E as procissões? Lá estão as bandeiras, e quem sabe os cachecóis. As procissões são a propósito um local a ser mais falado. Já Saramago diz que as procissões eram dos melhores locais para testemunhar a caricatura das pessoas desde a Idade Média. Eram, e ainda são, em muitos dos nossos locais, apesar das touradas e procissões já serem muito encobertas pelo entretenimento contemporâneo que é o futebol. Indo para o campo da brejeirice, um legado que também deveria ser recordado como o folclore e outros, só quem segurou num pau de bandeira num destes eventos sabe qual é o sentimento. Quanto ao campo específico dos funerais, as pessoas que tanto se esforçam a garantir durante a vida as suas bandeiras funerárias, acabem no fim de contas por não as verem no seu último passeio. Ora isto é um escândalo, e ninguém fala disto! Paga-se, porque não é de graça, por algo que afinal nunca se chega a ver!

Quer ser recordado como alguém ilustre? Ofereça bandeiras ou garanta já o seu kit de bandeiras funerárias num mediador perto de si.

         

 

Quer saber quais os eventos populares , como comesainas, ranchos e procissões que estão aí. Fique-se então com o tributo a Zeca Afonso na freguesia de Bravães no dia 10 à noite. Pode ser que aprenda realmente alguma coisa. Já agora, porque não apostar mais em eventos culturais destes, e reduzir os eventos tradicionais e religiosos apenas a 1 ou 2 eventos anuais e centrais concelhios, apenas para mostrar o que de facto é o passado tradicional ao turismo? É que para borgas à moda antiga todas as freguesias aderem em massa.

 

                                                  


sinto-me:

talhado por o barqueiro às 17:52
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