Não deve ler o recente artigo de Arnaldo de Sousa Varela se estiver à espera de ler uma anedota. É o próprio que o diz no recente “O Povo da Barca”, passando-se a citar: “Não é anedota”. O aviso logo no início do artigo está lá, no entanto, só para enganar. De facto falar da preocupação de não se poder ingerir frango, bagaço ou seja o que for “caseirinho” poderá parece-lo. Mas, numa leitura mais atenta, lá se percebe que o homem está a falar de “comezaina”, não para simplesmente encher o Editorial ou por que lhe terá apetecido “arroz de frango com sangue”, como ele próprio refere no artigo. Que mais poderia ser que a ASAE?! É isso mesmo, os fiscais do “petisco” são o seu tema do seu editorial. Já há algum tempo que os agentes da ASAE tem ganho protagonismo no panorama mediático nacional. Eles são tema de conversa desde os mais altos cargos políticos até à vulgaríssima conversa “de café”.
Arnaldo de Sousa vem-nos dar uma outra perspectiva acerca dos malefícios desta “praga” de agentes da ASAE. É uma das maiores construções teóricas dos últimos tempos em Ponte da Barca. Começa por descrever os tais agentes como “ninjas" da ASAE, encapuzados, bem constituídos, preparados para a nobre missão de expurgar a pátria do que lhe pode perturbar o estômago, fazer perigar a saúde, estimular excessivamente o palato, e, pelo prazer alcançado, alienar o espírito”. Mas não se fica por aqui, quase no fim lança o “pânico” nos leitores de um caminho sem retorno que o país está a tomar: “Ganha terreno uma nova forma de fundamentalismo com teóricos, polícias, prosélitos obedientes.”. Mas talvez mais assustador que isso é que esta paranóia da saúde pública, como ele diz, “transforma cada fumador num criminoso, cada gordo num relapso, cada apreciador de arroz de frango com sangue num potencial vampiro, cada produtor de bagaço caseiro num traidor à pátria, o nosso direito à liberdade num comportamento desviante que urge evitar.”. O manancial “culinário” não fica por aqui. Fala-se ainda das “matanças do porco” e do “cortar a cabeça ao galo” como actos exterminados pela brigada ASAE. Pois ao fim de ler este artigo do barqueiro, entristeça-se, pois por cada segundo de leitura umas quantas pessoas viram as suas bocas privadas para sempre de alimentos e bebidas confeccionadas nas melhores condições de imundice enriquecidas em nutritivas bactérias, e sobretudo perdeu também uns minutos da sua vida a não fazer alguma coisa de útil na sua vida.
Para no fim de contas ler alguma coisa de útil, fique com o seguinte raciocínio: provavelmente, se todas as leis se fizessem cumprir como a ASAE tem feito na área da alimentação, muita coisa estaria melhor no país. E também provavelmente, se nada fosse feito em relação às condições higiénicas de estabelecimentos abertos ao público, continuaríamos a ouvir queixas de que não há fiscalização nessa área… Quem te há-de entender, ó “português de gema fora do prazo”?!