“Conversas do Além” em Ponte da Barca
Nos últimos tempos temos assistido ao apogeu das crenças do além em Ponte da Barca. Os fenómenos “paranormais” são especialidade de muitas pessoas do nosso concelho, e muitas regem as suas linhas de vida com decisões feitas nessa base. Todo esse mundo mágico que se supõe próprio da Idade Média passou para as páginas de jornal. Nas últimas edições temos assistido, ou melhor, lido, diálogos entre mãe e filho, típicos da mais profunda e retrógrada igreja católica, que muitos julgam desaparecida. Mas existe, e esse facto faz-nos penar acerca das razões de todo o “atraso” típico do Portugal remoto. Temos assim uma nova rubrica que poderia muito bem ser chamada de “Conversas do Além”, ou algo do género, como o título de um programa televisivo de há uns anos.
Ficam aqui alguns aperitivos do que se tem passado no “Notícias da Barca”: para rir, caso se tratem de almas pecadoras e demoníacas como a do barqueiro, ou para aumentar ainda mais o “medo” e a “senilidade” dos barquenses que recorrem frequentemente a bruxas e bruxos, seus aspirantes ou seus mestres.
(os excertos começam pela voz da mãe, à qual o filho vai respondendo)
“(…) Meu Deus, quantas confissões e comunhões sacrilejas já nas crianças, e quanta corrupção!
A mãezinha não vai dizer nada do que lhe disse, pois não?
Não digo, meu filho; mas tu vais prometer que nunca mais irás para aquela casa, nem acompanharás com eles, nem com outros que sejam como eles.
Mãezinha, prometo!
Dá cá um beijo por teres fugido ao pecado, e resistido à tentação.”
E o barqueiro pergunta: que pecado e tentação terá presenciado o filho “santinho” da “mãezinha”?
“Meu filho, Nossa Senhora não se zanga com ninguém. É Mãe!
Pois, sim; mas eu fiz também um pecado…
Que foi?
Foi um pecado muito grande. Faltei à Missa no Domingo passado.
Porque faltaste?
Foi para ficar a brincar com outros rapazes.
(…)
Mas, filho, logo que possas, vais-te confessar. E foge de todo o pecado, que só pelo fogo há-de ser castigado, ou purificado.
Mãe, estou a pensar nas Alminhas do Purgatório. Quanto devem também sofrer.
E certamente temos lá pessoas da nossa família. (…) E elas, dias e noites, anos e anos, a pedir-nos para termos pena delas, porque só as nossas orações é que as podem aliviar, e tirar de lá.”
E o barqueiro pergunta: Quem se comportou com naturalidade e de acordo com a saúde mental normal para um ser humano: o “puto” que gosta de brincar com os amigos, ou a mãe que faz crer ao filho que pecou ao brincar com eles, não indo à missa nem rezando pelas “alminhas”?
Conclusão: o barqueiro dirige daqui os seus elogios a todos os leitores que conseguiram ler e chegar ao final deste post. Parabéns por conseguir ter desperdiçado o seu tempo a ler estas coisas!