Dia 1 de Novembro - Dia de "floriados"
É no jornal “Notícias da Barca” que pudemos ler o melhor artigo escrito acerca do dia 1 de Novembro em toda a imprensa regional de Ponte da Barca. O seu autor é Manuel Silva Machado, e o seu título “Lidar com os Mortos”. Nele é descrita a forma “difícil” com que lidamos com os mortos, e por outro lado caricata. “(…) As conversas rápidas ou as trocas singelas de palavras com os outros que vieram à cerimónia (funeral), testemunham o ligeiro mal-estar que se instala sempre entre os vivos.” Com isto, o autor não quereria dizer, por outro lado, que “fica mal” não chorar durante um funeral, como se fazia antigamente com um dos hábitos mais macabros e vergonhosos do antigamente: o “pranto”, que predominava num mundo conservador e rural à imagem de Salazar. Significa sim que as pessoas escondem “a complexidade de afectos que entretinha com o morto.” Parece que há incómodo em viver perante a sociedade o que realmente cada um de nós sente acerca da morte e dos mortos que fizeram parte da nossa vida.
Todo o desfile de adereços das campas que se colocam nesse dia é algo “sem qualquer sentido”. Como este autor também diz, “O morto morreu, e nós que vamos caminhando no sentido de lhe ocupar o lugar, deixemos esses floriados e façamos com que uma simples lágrima furtiva desça pela face em sinal de dor.”
O que é mais triste, é que tenha de haver um “Dia do Morto”, como um dia de uma outra coisa qualquer, para que uma vez por ano haja pessoas que se lembrem dos mortos.
Os políticos também podem amuar
Pois é... os políticos também têm a capacidade de amuar, apesar de muitas vezes parecer que são gente que nunca se chateia com nada. Apesar de serem casos não muito comuns, existem e têm sido registados. Desta vez aconteceu aqui, em Ponte da Barca, mais concretamente em Grovelas. O presidente da assembleia da junta de freguesia veio tornar público o seu pedido de demissão no último "Notícias da Barca". Isto tudo porque foi este membro de junta foi alvo de discriminação e abuso de poder pelo presidente da junta. E que forma de discriminação terá sido, perguntar-se-ão muitos?!... Foi um tipo raro de discriminação, mas ainda assim muito relevante: discriminação excursionista. Acha engraçado?! Não é para achar, depois da saber a segunda razão. Tratou-se de abuso de poder de manutenção de espaços fúnebres. Confuso?! É simples: o senhor que se demitiu apresentou queixa em praça pública dele e a sua esposa não poderem participar num passeio devido ao presidente de junta, assim como ser obrigado pelo mesmo presidente de "mandar nele e no Carlos" para limpar o cemitério. Em suma, o demissionário diz, no fim da declaração de demissão, tal e qual, que "Por isso não quero mais pertencer à Junta de Freguesia". E assim assistimos a mais um episódio de política barquense de alta qualidade, desta vez um amuo.
Não sabemos como o demissionário e o presidente de junta se têm encarado ou se encararam, mas podemos imaginar, com base num episódio semelhante ocorrido na política nacional:
Nova atracção turística em Oleiros
Cemitério polivalente serve não só para turismo, como para enterrar os mortos e ainda proporcionar milagres na inauguração
Como neste blog já tinha sido divulgado o anúncio do alargamento do cemitério da freguesia de Oleiros, o barqueiro decidiu dedicar mais um post a mais uma inauguração à moda barcalhoense. Um evento de tão elevada mesquinhice, tão importante na nossa terra, foi inclusivé "publicitado" neste blog, podendo ter contribuído também para a afluência ao local, no dia da inauguração em 23 de Junho. Faltam as palavras até, para um evento ao qual tem sido atribuído elevada relevância. Segundo os jornais locais "Oleiros passou a dispor de amplo cemitério que para já e num futuro longínquo satisfaz todas as necessidades. A capacidade quase duplicou o que mostra que o investimento aqui realizado pela Câmara Municipal vem ao encontro de uma velha aspiração". Perante tal obra, o barqueiro só tem a dizer: Sorte dos mortos que para lá irão!
Segundo palavras do tão orgulhoso e comovido Presidente de Junta, Manuel Lima:
"Hoje é dia de festa na nossa freguesia (...) Como todo o povo desta freguesia tem conhecimento, o cemitério estava super lotado e não havia sepulturas disponíveis, tanto para os falecidos, como para aquelas pessoas que as compraram há já mais 15 anos."
Bem! As pessoas estão mesmo preocupadas com o local onde mais tempo passarão, e esquecem-se que apesar de se esforçarem ao máximo para garantirem "moradias de luxo" eternas, passarão lá o resto dos dias mortos! Seria melhor preocuparem-se em gozar mais a vida enquanto estão vivas... é só uma sugestão! É que enquanto estão vivas ainda conseguem ter percepção...
Mas a "comédia fúnebre" não se ficou por aqui. Manuel Lima é também um dos homens com mais "auto-estima" ou algo do género. Veja-se o que ele disse:
"Foi investido nesta freguesia mais nos últimos dois anos que nos últimos 15..."
A este ritmo de trabalho, mais uns anos no poder e, como diz o outro, "não sei, não..."
Ainda estámos longe do fim deste repasto de "parábolas barcalhoenses". Houve tempo para presenciar milagres até. Não que seja novidade total, mas apenas o confirmar de vários cenários conjugados. É que este presidente de Junta, não sendo da mesma "corzinha" da Câmara Municipal, e isso nestas terras tem muito valor, neste caso parece perdê-lo todo. Parece que estão ambos em perfeita sintonia, "lambendo-se" mutuamente. O seguinte excerto confirma tudo isto:
"(...) foram eleitos em 2005, por partidos políticos diferentes. O que se tem vindo a verificar. O que se tem vindo a verificar a seguir à tomada de posse em 2005 foi o seguinte: O partido do Senhor Presidente da Câmara passou a ser Ponte da Barca e o meu passou a ser a freguesia de Oleiros"
Quem discursa assim não é gago: sabe é muito bem o que pretende... para o povo de Oleiros, é claro!
Mas a melhor é sempre deixada para o fim! Veja-se o que este presidente de Junta disse acerca do tão belo cemitério inaugurado, talvez uma das 7 Maravilhas de Portugal se tivesse sido inaugurado a tempo da eleição das listas de candidatos:
"Estamos muito orgulhosos da obra realizada, porque é digna de ser vista. Tem vindo pessoas de várias freguesias do nosso concelho e de concelhos vizinhos observar esta obra e têm sido unânimes em tecer elogios à referida obra."
Não é invenção! Está mesmo escrito pelo presidente de junta no "Notícias da Barca" de 30 de Junho. É VERDADE! Por isso já sabe: Do que é que está à espera para lá ir ver esta obra? Se lá for para não a ver é que pode ser mau sinal..."
Terminamos todo este "pagode" com a frase de encerramento de discurso do Presidente de Junta de Oleiros:
"A todas as pessoas aqui presentes o meu muito obrigado em especial ao Senhor Presidente da Câmara e toda a Vareação."
Próxima morada garantida
"Oleiros Inauguração do cemitério"
"No próximo sábado, dia 23, a Junta de freguesia de Oleiros vai proceder à inauguração da obra de ampliação e requalificação do cemitério da freguesia."
in "Notícias da Barca"
Este será talvez o evento que abre a época de inaugurações em Ponte da Barca, já que pouco ou nada é feito para ser inaugurado nestes últimos tempos, à excepção da "moda" das bênçãos de carrinhas que são oferecidas a diversas freguesias pela Câmara Municipal.
Esteja lá também você, pois afinal não é todos os dias que se festeja uma inauguração de um......... cemitério?! Alguma coisa não está a bater certo aqui. Inaugurar um cemitério?! Há de facto motivos de festejo, já que as pessoas, particularmente da referida freguesia, vêm agora ser-lhes garantida a morada na qual mais tempo "viverão". Se tal for efectivamente verdade, parabéns aos moradores da freguesia que já não viverão a partir de agora na incerteza de quando morrerem viverem na "rua", como muitas pessoas vivem actualmente infelizmente.
De qualquer forma é melhor esperar pelo próximo jornal, pois um caso tão insólito só poderá ter duas origens: a "criatividade" singular nos eventos realizados pela Junta de freguesia de Oleiros ou, mais provavelmente um qualquer erro de ordenação do jornal, devendo-se estar a referir a outra coisa que não um "cemitério" no excerto publicado.
Esperemos então pela eventual correcção na próxima edição.