Barquenses votaram Europa... ou não
Não é que com isto o barqueiro esteja a apelidar todos de "ignorantes". Mas de facto foi aquilo que os políticos, ingenuamente ou não, fizeram dos cidadãos em todo o país. A realidade é que uma grande parte dos portugueses, de entre aqueles que foram às urnas, foram e ainda são "euro-ignorantes". As opções de voto eram 12, e encontrar uma dessas opções que falasse da Europa e dos seus assuntos, para elucidarem o eleitor a ir votar para a EUROPA, foi extremamente difícil. De toda a actividade eleitoral dos 11 partidos políticos e 1 movimento pouco tempo foi passado discutindo a Europa, o modelo social, político e económico que para ela pretendiam, e o hot-topic do Tratado de Lisboa.
O barqueiro está certo de que a maioria dos que foram votar não sabe ainda hoje em que opção e visão europeia votou. O barqueiro não votou, atendendo à sua condição de personagem "linguareira" e bloguística, mas de todos os portugueses recenseados votaram menos de 40%. Em Ponte da Barca o resultado da abstenção foi ainda pior, com 68,24%. Como já muita gente disse em uníssono, isto é o reflexo da descrença na política como a conhecemos. O barqueiro entra numa outra perspectiva, e diz que isto mostra também um alheamento preocupante do acto de cidadania em Portugal. Não há lógica em criticar o rumo político, sem nele participar nas eleições. Há que escolher o rumo que se entende melhor, de entre aquelas opções que nos são oferecidas, ou então, se se está num clima de protesto, votar em branco, como muitos portugueses fizeram.
De facto o povo é soberano, e estar a criticar o facto de votarem não na Europa, mas sim nos partidos nos seus contextos nacionais, é de certa forma legítimo, ao contrário do que os bonitos discursos políticos fazem crer. Afinal, foram esses mesmo políticos que criaram a situação da "euro-ignorância".
Em Ponte da Barca o mesmíssimo cenário, com o PSD a conquistar também a vitória, de forma mais esmagadora, o PS num fraco 2º lugar, e também o BE como 3º mais votado, apesar de uma menor percentagem em comparação com a nacional. O facto dos resultado terem apontado para uma vitória clara do partido que não está no poder, nem na autarquia, nem no Governo, reforça provavelmente a mesma ideia do voto "euro-ignorante". Mas já que estas foram umas eleições que todos as forças políticas quiseram fazer nacionais, poder-se-á analisar os resultados de forma mais ou menos fidedigna num contexto nacional: reprovação total do PS, vitória clara do PSD e o mais fraco resultado dos 2 grandes partidos juntos, com muitos votos a cair em forças alternativas. Será que, partindo de quase certo que não se votou na Europa, os resultados também significam qualquer coisa, um "aviso", para o executivo no poder? A maioria absoluta dos laranjas deve ter então assustado Vassalo e seus discípulos. O PSD local e nacional ficou muito reconfortado, mas ainda faltam alguns meses para as eleições, essas sim de carácter local e nacional, pelo que muita politiquice ainda vai correr.
E foi assim o primeiro "treino" eleitoral para os portugueses e para os barquenses, supostamente para votar na Europa, e cujos políticos, e por arrasto a sociedade, quiseram fazer (e conseguiram) de "barómetro" pré-legislativo...