Comemorações do 25 de Abril
É bonito ter ao longo do ano atitudes, decisões e ideias que nos fazem concluir, nas nossas reflexões filosóficas, que o espírito salazarista ainda está por aí, na maioria das cabecinhas, e chegar-se ao dia 25 de Abril e os jornais se encherem de bonitas homenagens aos ideais dos “Cravos”, e aos que por eles lutaram. É bonito quem tem convicções bem marcadas e as manifesta em benefício da cidadania ser “desligado” tanto da sociedade em que se insere, como de poderes mais altos. É bonito chamar-se chamar –se por “senhor doutor” a 50% ou mais da população e Portugal ser o país com menos grau de escolaridade. É bonito ver-se a encher os gabinetes e casas dos senhores “fulanos de tal”, os que por algum motivo conquistaram lugares de “influência” ou poder, com pessoas a pedir emprego ou um outro favor. É bonito ver-se uma Justiça onde “justiça” e “igualdade” são princípios quase postos de parte. É bonito ver o português, desde o mais pobre ao mais rico, “mamar” quanto os recursos à disposição permitem. É bonito ao fim disto, ver que muitas pessoas celebram o 25 de Abril, e noutros momentos dizem desejar o regresso de uma “Salazar” feito Messias. E em Ponte da Barca, não se faz por menos. Os artigos lá invadiram os jornais. Grandes são eles. E as dimensões das falácias por vezes maiores. Miguel Pontes lá diz que Portugal em 34 anos evoluiu, e “Em Ponte da Barca as coisas demoraram um pouco mais. Mas aconteceram!...”. Perante isto o barqueiro diz: era bonito que, ainda que nada viessem a escrever sobre o 25 de Abril, parassem para reflectir antes de falar e escrever, porque antes de escrever sobre liberdade e democracia, é preciso senti-la. Quando chegarem aí, escreverão artigos com menos “palha”, e tornarão os vossos graúdos artigos em graúdos artigos com pouco espaço para falar de tudo o que a Revolução dos Cravos realmente deverá significar para os barquenses.
É nesta altura do ano que o movimento de cabazes é mais intenso. Há donativos para fazer a instituições e necessitados, há prendas para dar aos amigos e familiares, boas festas para desejar… E é assim que alguns dos cabazes em circulação no Natal contribuem para a taxa elevada de “intercâmbios natalícios”. Mas a contribuição mais relevante para essa taxa de circulação de cabazes são talvez os “cabazes graxistas”. É nesta altura que se aproveita para “pagar” a factura dos favores acumulados ao longo do ano ou, por outro lado, para “passar” a escova a alguém, para que o próximo ano seja tão próspero quanto o que passou. A política é um grande sector de circulação deste tipo de cabazes no nosso concelho.
Vulgar cidadão “devedor”: Olá! Muito boa noite sr. “Político”.
Político: Boa Noite.
Vulgar cidadão “devedor”: Venho aqui trazer-lhe este presentinho… Não é para lhe pagar nada… É só para lhe agradecer a sua boa vontade de me ter arranjado um “tachinho”…
Político: Não era preciso trazer nada…Não se incomode (Pensando: Não se esqueça de continuar a trazer!)
Vulgar cidadão “devedor”: Favorzinhos destes nem em toda a vida se conseguem pagar. Obrigadinho… Muito Obrigadinho… Bom Natal!
Político: Igualmente…
Vulgar cidadão “devedor”: Muita saudinha para sua esposa e toda a sua família… obrigadinho… adeus… adeus…
Mas eis que, nesta bonita história de Natal, o sr. Político com estatuto no seu meio envolvente, também está na condição de “devedor”:
Político “devedor”: Boa noite. Como está? Bem disposto sr. “vulgar cidadão”?
Vulgar Cidadão: Olá sr. Político… Por aqui?
Político “devedor”: Venho trazer-lhe uma pequena lembrança de Natal (Pensando: pela “fidelidade” que me tem mostrado e espero que assim continue).
Vulgar Cidadão: Ai… Deixou-me sem jeito… Não precisava de se ter incomodado…
Político “devedor”: Venho desejar-lhe também um Bom Natal a si e aos seus.
Vulgar Cidadão: A si também e a toda a sua família… Saudinha para si e para a sua família…
Político “devedor”: O que é preciso é saudinha para todos, tem muita razão. Adeusinho e boa consoada. Boa Noite.
Vulgar Cidadão: Adeusinho… Adeusinho… Não precisava de ter trazido nada. Muito obrigadinho…