Provedor da Santa Casa presta prova de licença de uso e porte de arma
Na última página do Notícias da Barca de 27 de Abril saltou à vista de todos um artigo, para além daquele que Marques Pereira escreve todas as semanas. Já está a ver qual é? Pois é mesmo esse que está a pensar... Trata-se do Aviso aos leitores caçadores que o renovar da licença de uso e porte de arma obriga a uma prova. Nele lê-se:
"Mesmo que cacem há mais de 50 anos, os caçadores vão ser obrigados, para renovarem a sua licença de uso e porte de arma, a disparar uns tiros para provar que o sabem fazer"
Ora todos sabemos que os nossos jornais são riquíssimos em belos atiradores que frequentemente prestam provas da sua habilidade em usar armas de ataques pessoais. Com esta obrigatoriedade que todos os atiradores têm que prestar, vamos com certeza assistir nos próximos tempos às provas de ataque pessoal para que estes caçadores consigam as suas novas licenças. O barqueiro só tem a dizer que acha muito bem que se prestem provas da perícia destes atiradores, para que esta actividade, profissionalmente ou por lazer, não perca a qualidade que todos gostam de ver espelhada nos jornais.
Começamos esta semana pelo Provedor da Santa Casa da Misericórdia, António Bouças, que demonstrou os seus dotes em ataque pessoal nas típicas respostas, ataques, contra-respostas e contra-ataques da imprensa regional.
Tudo começou com um tal de p.Antonino no jornal anterior a este, que escreve um artigo em que denuncia um aumento do salário da Santa Casa da Misericórdia apenas para os maiores cargos de gestão (comentado neste blog em http://nadasobreabarca.blogs.sapo.pt/9317.html).
Como a mui nobre linhagem de provedores da Santa Casa foi afectada e acusada basicamente de "mamanso" à portuguesa, o actual provedor prestou também as suas provas no manejo de tais "armas".
Toda a sua técnica e talento é neste artigo, "Provedor da Santa Casa Responde", demonstrada. Após leitura do artigo pode-se caracterizar todos os passos da sua inteligente técnica de ataque:
1. Começa o confronto com aquele que o denunciou com o habitual, respeitoso e elegante cumprimento que acontece por exemplo na esgrima: "Venho por este meio solicitar a possibilidade de resposta a um artigo dirigido ao provedor da Sta. Casa da Misericórdia (...)". Quase parece que nem é ele que está a iniciar a resposta a "p.Antonino".
2. A seguir denuncia de forma habilidosa que afinal se trata do próprio provedor a responder. No entanto, de forma a distrair o adversário e até a incentivá-lo a virar as costas, dizendo que a uma denúncia anónima "(...) pessoalmente repudio e por princípio desprezo tal tipo de intervenção jornalística (...)".
3. Depois de dar a entender que só leu a denúncia e não tenciona dar importância a isso, fazendo o seu adversário virar-lhe as costas convencendo-o que não lhe vai contra-atacar, eis que saca da sua "arma" e desata a disparar, prestando provas para a sua licença de uso e porte de arma: "obrigo-me a denunciar a não veracidade de alguns factos mencionados". Durante a extensão seguinte do artigo desata a gastar as suas munições.
Há que referir que os motivos, ou as "munições", que gastou não convenceram ninguém, ou seja, não atingiu em cheio o adversário p. Antonino. Foram apenas uns tiros que mais pareceram fogo de artifício.
Apesar de tudo, parece que a licença de uso e porte de arma de ataque pessoal foi concedida. Neste tipo de salçadas jornalísticas à minhota não interessa se os tiros vão direitos ao adversário. O que interessa e que realmente é avaliado é o barulho e os espectáculos prestados aos leitores.
A redacção utiliza essa sim as suas munições de forma eficaz, gastando uma ou duas balas, respondendo que "De anónimo, como o senhor Provedor invoca, a Antonino, vai um nome que por certo poderá ou não dizer-lhe alguma coisa entre dezenas de funcionários da instituição". Apesar de objectivamente respondido, como haveria sempre de ser, o povo quer mais do que isto: quer fogo de artifício como resposta a fogo de artifício!
No final de tudo, apesar de já ter a licença de uso e porte de armas de ataque pessoal nas mãos, decide desafiar o seu adversário para um duelo a sério, talvez uma cowboiada: "(...) quero manifestar a minha total disponibilidade ao anónimo ou seu representante, para pessoalmente, FRENTE A FRENTE, lhe demonstrar a verdade e bondade dos nossos propósitos (...)".
Quando será o "frente a frente"? E quem irá prestar a próxima prova de renovação da licença de uso e porte de arma de ataques pessoais?
Esperemos para ver!