Sábado, 31 de Março de 2007
Gostaste de Salazar, barquense?!

Gostaste de Salazar, barquense?!

É verdade! Salazar, ou pelo menos o seu fantasma, ainda anda por aí nas cabecinhas de portugueses, como os barquenses típicos. A última prova disso foi o concurso "Os Grandes Portugueses" da RTP, feito com base num formato da BBC. O barqueiro quer assim manifestar a sua grande desilusão perante as ideias ainda muito enraizadas pelo mito patriota e católico que foi o regime salazarista. É uma grande desilusão ver os portugueses a desejar o passado, passado que ironicamente os trava no caminho do futuro: no caminho do desenvolvimento e aproximação à União Europeia. Como o barqueiro conhece os terrenos que pisa, não foi novidade nenhuma ver pessoas a desejar um novo regime de opressão. Os barquenses, aos quais é dirigido este blog, demonstram-no no dia-a-dia: nas conversas, nas convicções, nos seus comportamentos. Aliás, este sítio da Internet é uma montra que tem ironizado situações caricatas da actualidade da Barca, situações essas que constituem uma verdadeira montra da prática de ensinamentos salazaristas, que apesar de já terem acabado há muitos anos, ainda continuam a passar de pais para filhos. Querem exemplos? Então fiquem com a seguinte lista de sintomas característicos do salazarismo provinciano, que o podem ajudar a avaliar o seu estado de saúde mental:

  •  Pensar que só um novo Salazar pode resolver a tão "falada" crise, típica dos queixumes do português desde as suas origens;
  • Meter cunhas para conseguir algo, pois de outra forma não se consegue nada;
  • Submeter-se aos senhores de "boas famílias", ao senhor político da terra e ao senhor que trabalha no sítio tal, e que por ter esse estatuto pensa que pode tramar a vida a todos;
  • Quando algo está mal na terrinha, critica-se e comenta-se com o vizinho, muitas vezes ao fim da missa, mas para haver uma reclamação ou manifestação no devido local e no devido momento "está quieto! Não vás arranjar lenha para te queimares!";
  • Presta-se vassalagem àqueles que se julgam maiores que os outros, e depois em actos de fúria em conversas de vizinhos há queixas que o fulano de tal trama a vida a muitos e que se julga com o poder todo, quando muitas vezes esses fulanos de tal só têm o estatuto provinciano que têm por que são as pessoas que se "baixam" a eles;
  • Quando tem que haver união das pessoas em favor de uma causa para o bem comum "fica bem acomodadinho, senão ainda ficas mal visto!", excepto quando a causa pela qual deve haver união é uma boa petiscada;
  • Ir para a taberna exprimir a inveja em "relação ao próximo", enquanto a mulher cozinha e arruma a casa, que "é para isso que elas servem!";
  • Ter prazer em pertencer a uma "santa" comissão de festas, quando são os outros que nomeiam quem lhes apetecem, e depois de haver chatices e aborrecimentos, continuar a aceitar nomeações dos outros para mais festanças, "não se vá ser mal visto ou até castigado por Deus, ou seja, pelo padre da terra";
  • Haver pessoas que se tratam por senhor, senhor doutor ou senhor padre, enquanto que outros são tratados por tu ou pela "alcunha" em tom pejorativo e de vulgaridade;
  • Trabalhar a terra ou criar animais não por lazer, mas como ocupação profissional, quando é evidente que gastam mais dinheiro a tratar dessas coisas do que depois vão obter no momento de receber, pensando que têm lucro (já Salazar dizia que queria que Portugal fosse um belo campo de cultivo);
  • Quem tem filhos envia para a escola os filhos, não tendo consciência de que é nela que pode residir o futuro do filho e as bases da sua educação, e assim o futuro de Portugal (nesse aspecto o Presidente Sócrates não é por acaso que diz que "a formação é a prioridade", apesar de nunca se ter levado isso a sério);
  • etc;
  • etc;
  • ...(deixem mais sinais de salazarismo que certamente conhecerão em "dizer ainda menos e botar farpas" no final do artigo)

E em conclusão de tudo isto vivemos num ciclo vicioso em que está para surgir quem o quebre: é o poder político que se aproveita do povo e não o serve devido à corrupção, apesar de por vezes se darem sinais de quererem resolver as crises, e é o povo que também desconfia sempre do poder político e não contribui com uma atitude interventiva para o estimular, apesar de acreditar momentaneamente na promessas políticas de 4 em 4 anos.

E é nisto que temos vivido desde o 25 de Abril, que apesar de ter mudado muito o país para acompanhar o ritmo evolutivo da Europa, especialmente a partir da adesão à UE, não se consegue libertar das lavagens ao cérebro depois de tantos anos de ditadura. Daí que até haja pessoa que gostam da ditadura e que a extrema direita esteja lentamente a crescer.

 

Mas como isto se está a tornar um pouco pesado, e pouco divertido, eis que a imprensa regional nos brinda com artigos que olham para o leitor e os obriga a dizer "ri-te, ri-te!".

É o caso de Jaime Ferreri na edição de 23 de Março de "O Povo da Barca". Nele publica um artigo entitulado "Os Grandes Portugueses", onde critica a opressão de Salazar que ele próprio viveu, particularmente quando foi para a Guerra Colonial. Pena é que a imagem que este escritor passa de Salazar, apesar de correcta, muitos dizem que não corresponde às suas verdadeiras convicções. Só ele o saberá realmente, e só quem com ele lida e o conhece é que poderá dizer mais alguma coisa para além de declarações de vozes dispersas e anónimas e de boatos. Mas uma coisa é certa: para Salazar ganhar a única votação que não subornou e depois de estar morto, muitas pessoas terão votado nele, e muitas pessoas deverão existir, ainda para mais em terras do interior, que têm saudades dos tempos da "Mocidade Portuguesa". Fiquem com um filme dos "Gato Fedorento", que não tem a intenção de criticar ou tirar o mérito a quem lutou por Portugal obrigado pela vontade salazarista, tendo o objectivo apenas de caricaturar o soldado do ultramar.

 

 

Outro artigo da imprensa regional que se destacou foi a entrevista à empresa "Américo Esteves & Filhos". Não pelo conteúdo da entrevista, mas pelas semelhanças físicas entre o fundador da empresa e o ditador tão falado nestes últimos tempos. Digam lá se à primeira vista não se podem confundir!

                      

 

Para fechar, vejam mais um episódio protagonizado pelos emigrantes em França. Os emigrantes são mais um sinal e um vestígio no tempo do atraso a que a ditadura votou Portugal, particularmente as regiões do interior e provincianas, obrigando as pessoas a emigrarem. Ironicamente o regime que criou as dificuldades neste país que os obrigaram a partir para o estrangeiro deixou marcas em muitos ao ponto de não conseguirem libertarem-se de velhos pensamentos antiquados, que seria suposto perderem em países muito mais abertos culturalmente. Apesar estarem sempre a mostrar que os emigrantes portugueses são os mais trabalhadores, a aceitação dos imigrantes que vêm para o nosso país trabalhar ainda é muito má, fruto de tais raízes que agora estão a ser reavivadas pelos movimentos de extrema-direita. Patriotismo em primeiro lugar, já lá dizia Salazar. Só depois Deus e ainda mais atrás Família.

 

Depois de tudo isto, resta ao barqueiro despedir-se, deixando a sua opinião de que perante raízes tão fortes que não deixam o país caminhar para a modernidade tão desejada, só uma Europa cada vez mais unida, no sentido de caminhar cada vez mais para um estado global e não de uma união de estados, será provavelmente a salvação para países como Portugal e para as suas mentes mais salazaristas, como é o caso da maioria dos barquenses deste concelho.

  

 

 


sinto-me:

talhado por o barqueiro às 16:29
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