A "Nata" Barquense
Estava o barqueiro lendo um dos "Notícias da Barca" do mês de Julho, quando se deparou com mais um excelente artigo da autoria do já conhecido sociólogo Pedro Costa. É claro que esta é só a opinião do barqueiro, mas nunca é demais expressar neste blog a sua grande admiração por aquilo que escreve. "Nata" de Ponte da Barca, olhem para esta forma de escrever e de opinar, expor e analisar diversos temas da sociedade!
O artigo de Pedro Costa que levou o barqueiro a escrever este seu artigo tinha como título "Sobre a humildade e honra". Nele estava o seguinte início de parágrafo, e o barqueiro deu-se aqui à liberdade de o expor, para a "nata" barquense pensar nele:
"O uso da palavra Doutor serve, cada vez mais, para (re) direccionar o poder nas relações sociais. Como douto é aquele que , aparentemente, sabe do que fala ou trata, nas relações a palavra doutor implode o sentido e subjuga o "não-douto" ao douto."
De facto não se poderia melhor retratar aquilo que hoje se passa na sociedade, em que todo o possuidor de um curso superior, e alguns deles com formação não se sabe bem em quê, vive na ânsia de mostrar ao próximo o seu título de "doutor", na ânsia de assim ser tratado nas relações sociais, mesmo naquelas externas ao exercício das suas actividades enquanto formado em determinada área. É uma "febre", talvez devida ao facto do nosso país, e em particular o nosso concelho, não estar historicamente "habituado" a estudar e a formar os seus cidadãos. A isto junte-se a necessidade de afirmação e estatuto, e a "febre" poderá em parte estar explicada.
"Andamos constantemente embrulhados numa típica disputa de "galos" para demonstrar qual de nós tem mais força, inteligência ou mais poder."
O barqueiro apeteceu-lhe pegar nestas palavras de Pedro Costa e aplicá-las especificamente à "Nata" que circula em Ponte da Barca. Nessa "nata" incluem-se aqueles que constantemente impõe o seu título de doutor e/ ou o seu estatuto, e estão também muitos senhores que não possuem formação superior, mas que são portadores de uma qualquer "graça" que lhes permite tentar convencer os outros que são portadores da verdade ou do poder. O barqueiro não vai com certeza revelar nomes. Apenas pode dar pistas, apesar de muitos não precisarem delas. Ao barqueiro apeteceu-lhe falar do clube Rotary de Ponte da Barca. Foram os escolhidos apenas por recentemente serem notícia, pelo seu novo presidente. Devido a isto avivou-lhe a memória. Mas não se ralem, pois muitos dos membros desta "nata" podem até não pertencer a este clube. São aqui referidos apenas a título de exemplo. O Rotary tem como propósito da sua existência causas nobres, em que os seus membros, com a suposta estabilidade social e económica que possuem, desenvolvem actividades no campo da solidariedade social, ou noutras áreas, como a premiação do mérito de alguém. Basicamente será assim que o barqueiro e o comum cidadão o poderá definir. No nosso concelho em particular, é neste clube que se podem encontrar alguns do melhores exemplares do que é pertencer à "nata". Encontramos gente ligada à política, que basicamente a usam para o que o comum político português pretende; encontramos gente que é ou já foi portador de um cargo profissional que lhe deu o estatuto de ser o portador da verdade e do poder perante o povo; encontramos uma estirpe de empresários designada de lobbies (para quem não sabe, aqueles empresários que não se sabe onde termina a sua acitividade económica e onde começa o seu envolvimento na política); encontramos a religião Católica à mistura, como não pode faltar numa boa receita à portuguesa; e encontramos ainda muitos à procura de afirmação, não se sabe bem em quê, que o que sabem com toda a certeza é que querem pertencer, perante os olhos dos barquenses, à "Nata". Não intrepretem mal o barqueiro: o Rotary club não é tudo isto, o que é tudo isto são membros do tal clube, que não quer dizer que sejam todos (apesar de serem, no final de contas, bastantes).
Fora deste clube existem muitos mais. Existem os lobbies clássicos, empresários que vêm (ou quase) desde os tempo da "velha senhora", que têm uma grande quota de responsabilidade da actual situação de fraco progresso do concelho de Ponte da Barca; Existem velhos detentores ou ex-detentores de cargos públicos, do tempo em que no Portugal recondito ser detentor de tal cargo implicava automaticamente, mais do que respeito, o medo do cidadão comum, qual práticas inquiritórias; Exite "malta" que almeja entrar directamente na "nata" pela maior porta, a da política (a má política, diga-se).
Fique-se por aqui, até porque já cansa...
É bom saber que ainda existem barquenses, como o exemplo de Pedro Costa, que reflectem sobre o caminho que a sociedade real segue.
Um relato na imprensa local acerca de um episódio passado em Vila Nova de Muía prova mais uma vez que o problema das escolas em Portugal é serem "portuguesas", na verdadeira acepção da palavra. Tantas vezes ouvimos falar da "mentalidade portuguesa" como pesada herança de tempos fechados de ditadura que se propagou às gerações posteriores. Tantas vezes ouvimos falar de Portugal na cauda da Europa em muitas áreas. São na realidade dois factos que andam de mãos dadas, "casadinhos" e com um laço muito forte que os une. Transferindo estas reflexões para a educação temos as explicações do que se tem passado na actualidade do país. O problema da Escola Carolina Michaelis é da educação que se dá aos jovens. Muitos pais não educam os filhos, e sobretudo não incutem nos filhos a importância da escola, e para o que é que andam a caminhar através dos estudos, e depois os culpados são os telemóveis. Os professores dão a entender que não querem ser avaliados, pois não avançam alternativas ao modelo tão contestado, dizendo apenas "não à avaliação". A sociedade com a tal mentalidade rotula pessoas e cria divisões com base nas diferenças que felizmente existem entre as pessoas, e incute isso desde tenra idade, e o Procurador Geral da República vem dizer que as escolas são "incubadoras" da violência e injustiça. As escolas não actuam quando há indisciplina e os alunos habituam-se a recorrer e a imitar os episódios de violência, chegando-se ao ponto de se precisarem de vídeos das cenas de indisciplina para "fazer de conta que se disciplina". O problema da indisciplina e violência na escola sempre existiu, assim como a mentalidade, e chega-se a 2008 e um vídeo do youtube que alguém se lembrou de por nos telejornais espanta as pessoas e os políticos, quando toda a gente que passou pela escola sempre soube que isso existia.
Talvez nesta onda mediática, que já está quase esquecida, alguém decidiu por no jornal que um aluno da freguesia de Ponte da Barca já referida foi discriminado quando não lhe entregaram as amêndoas na celebração da Páscoa na escola, ao contrário do que fizeram aos restantes alunos. Só foram entregues depois, depois de o tal aluno ter visto as amêndoas serem entregues aos colegas. Isto e tudo o resto aqui falado passar-se-á também nas escolas de Ponte da Barca, como todos saberão.
A taxa de mortalidade infantil costuma ser usada como índice de desenvolvimento de um país, e nisto Portugal já é um país desenvolvido. Os restantes rankings mostram um Portugal fracamente desenvolvido, pois é um país que não consegue construir uma base para o desenvolvimento tão desejado: educar os cidadãos.